Esta noite, pela primeira vez, sonhei com ele, com o João Guedes. Depois de 3 dias seguidos imersa na sua vida e de adormecer logo a seguir a rever esta cena do Silvestre, apareceu, com a mesma vestimenta, num campo muito largo em que o perdi de vista. Hoje de manhã ocorreu-me que escrever sobre alguém que nunca conhecemos e que já morreu é como roubar os fantasmas dos outros.
Lembrei-me também que todo o cinema fala sobre a morte e sobre fantasmas. E também a escrita.
Além disso, descobri que, na figura do pai, o encontrava de uma forma diferente, mais próxima. Talvez por isso tenha vindo ver-me em sonhos.
Essa figura e personagem que ele encarna constantemente nos filmes, mesmo que por vezes de forma apenas simbólica: o pai. Quase sempre em forma de «vilão» ou destacando aquelas coisas más que à figura do pai, enquanto dono das terras e guardião da ordem patriarcal, se associavam nos filmes políticos depois do 25 de Abril.
Mas acho que foi este gesto terno, com a Maria de Medeiros no colo, que de repente tornou pessoa a sua imagem.